Na semana em que se celebra o
amor, inúmeros têm sido os artigos, as entrevistas, as crónicas de
opinião, que diarimente têm vindo ao
nosso encontro onde se fala sobre namorados, sobre violência no namoro, e sobre
as várias formas de amor. Não obstante considerar bastante preocupante a violência
no namoro, testemunhada em depoimentos vários,
e encarada como “normal”, por protagonistas desses mesmos
depoimentos, houve uma vertente do amor
que mais me cativou a atenção,
através três artigos em diferentes
publicações a versar o mesmo tema – relação entre filhos e pais.
Se de início fiquei chocada com o
desenvolver dos textos e dos depoimentos,
após leitura mais atenta e cuidada, consegui ir dissecando cada uma das
passagens e sobre elas reflectir.
Fruto de um aproximar entre
gerações, de uma relação mais aberta, e menos autoritária, a forma de estar dos jovens de hoje é em tudo
diferente daquela que os seus pais vivenciaram, numa época em que a austeridade
parental era nalguns casos extrema, e em que ninguém ousava sequer desafiar a
voz ou o olhar do progenitor. No entanto, nesses anos idos, o “agradecimento” e o “reconhecimento” pela
existência, pela vida, e por tudo aquilo que ela poderia proporcionar, era um
lugar comum em todos os lares. Os filhos reconheciam o “milagre da vida”, e
numa sociedade que lutava com inúmeras limitações materiais, culturais,
educacionais e outras, a Vontade de crescer, lutar, conhecer, desbravar,
vencer, impunha-se e transformou essas gerações num capital de desenvolvimento e
conhecimento do país e da sociedade .
Chegados aos dias de hoje, muito
pela meteórica transformação da sociedade, pela “fartura” de meios ao dispor,
pelas constantes e diversificadas solicitações sociais, por uma inversão na escala de valores, muitos são aqueles que denotam uma manifesta
incapacidade relacional, que se traduz em frustrações que não raro conduzem à
violência, não apenas física, mas essencialmente psicológica, para com os pais.
Li, e na opinião de sociólogos e
psicólogos reputados, a rápida
transformação da sociedade, as dificuldades trazidas por crises de vária ordem
(económica, social, de valores, por ex.),
instaladas num caminho que se queria facilitado e talhado para o sucesso, vieram pôr em causa regras, conceitos, e a
própria sociedade. Perdidas neste emaranhado, as gerações mais jovens, desiludidas,
desconfortáveis com o futuro anunciado, mas em simultâneo com uma manifesta
falta de Querer e de Vontade, direccionam a sua frustração e revolta, para os pais. É frequente, segundo os profissionais que se
debruçam sobre esta temática, a frase:”não pedi para nascer, portanto, já que
cá estou, aguenta!”.
É chocante e por demais
preocupante. Se antes os pais se congratulavam pelo “milagre da vida”, agora,
querem os filhos fazê-los sentir culpados por eles terem nascido??? Filhos que não são fruto de um qualquer jogo
de consola, mas sim de uma relação, de uma cumplicidade amorosa… Filhos, a quem
os pais se dedicam com um amor incondicional e a quem colocam acima de tudo na
vida, quantas vezes com sacrifícios vários e incomensuráveis, mas sempre com
aquele “savoir-faire” de quem está de bem com a vida.
E sim, neste mês do amor, faça-se
uma reflexão sobre o seu verdadeiro valor, sobre o que está a acontecer com os
mais jovens, e não se dê de barato o amor como consumo, como desculpa para actos fúteis, como representação material de um mau estar
espiritual, ou como culpa pela falha de uma enorme e potente máquina social.
Se existir ainda a capacidade e o
espaço para dialogar, para inverter valores subvalorizados, para fazer renascer a Vontade e o Querer, poderemos ir ainda a tempo de travar algumas
formas de violência quer com os pares, quer com os pais. Compete à sociedade em
geral e a cada um em particular, operando nos seus lugares específicos,
reverter a tendência de degradação e desrespeito evidenciadas nas várias
publicações dos últimos dias.