sábado, 13 de fevereiro de 2016

O amor ... talvez ainda seja tempo ...



Na semana em que se celebra o amor, inúmeros têm sido os artigos, as entrevistas, as crónicas de opinião,  que diarimente têm vindo ao nosso encontro onde se fala sobre namorados, sobre violência no namoro, e sobre as várias formas de amor. Não obstante considerar bastante preocupante a violência no namoro, testemunhada em depoimentos vários,  e encarada como “normal”, por protagonistas desses mesmos depoimentos,  houve uma vertente do amor que mais me cativou a atenção,  através  três artigos em diferentes publicações a versar o mesmo tema – relação entre filhos e pais.
Se de início fiquei chocada com o desenvolver dos textos e dos depoimentos,  após leitura mais atenta e cuidada, consegui ir dissecando cada uma das passagens e sobre elas reflectir.
Fruto de um aproximar entre gerações, de uma relação mais aberta, e menos autoritária,  a forma de estar dos jovens de hoje é em tudo diferente daquela que os seus pais vivenciaram, numa época em que a austeridade parental era nalguns casos extrema, e em que ninguém ousava sequer desafiar a voz ou o olhar do progenitor. No entanto, nesses anos idos,  o “agradecimento” e o “reconhecimento” pela existência, pela vida, e por tudo aquilo que ela poderia proporcionar, era um lugar comum em todos os lares. Os filhos reconheciam o “milagre da vida”, e numa sociedade que lutava com inúmeras limitações materiais, culturais, educacionais e outras, a Vontade de crescer, lutar, conhecer, desbravar, vencer, impunha-se e transformou essas  gerações num capital de desenvolvimento e conhecimento do país e da sociedade .
Chegados aos dias de hoje, muito pela meteórica transformação da sociedade, pela “fartura” de meios ao dispor, pelas constantes e diversificadas solicitações sociais,  por uma inversão na escala de valores,  muitos são aqueles que denotam uma manifesta incapacidade relacional, que se traduz em frustrações que não raro conduzem à violência, não apenas física, mas essencialmente psicológica, para com os pais.
Li, e na opinião de sociólogos e psicólogos reputados,  a rápida transformação da sociedade, as dificuldades trazidas por crises de vária ordem (económica, social, de valores, por ex.),  instaladas num caminho que se queria facilitado e talhado para o sucesso,  vieram pôr em causa regras, conceitos, e a própria sociedade. Perdidas neste emaranhado, as  gerações mais jovens, desiludidas, desconfortáveis com o futuro anunciado, mas em simultâneo com uma manifesta falta de Querer e de Vontade, direccionam a sua frustração e revolta, para os pais.  É frequente, segundo os profissionais que se debruçam sobre esta temática, a frase:”não pedi para nascer, portanto, já que cá estou, aguenta!”. 
É chocante e por demais preocupante. Se antes os pais se congratulavam pelo “milagre da vida”, agora, querem os filhos fazê-los sentir culpados por eles terem nascido???  Filhos que não são fruto de um qualquer jogo de consola, mas sim de uma relação, de uma cumplicidade amorosa… Filhos, a quem os pais se dedicam com um amor incondicional e a quem colocam acima de tudo na vida, quantas vezes com sacrifícios vários e incomensuráveis, mas sempre com aquele “savoir-faire” de quem está de bem com a vida.
E sim, neste mês do amor, faça-se uma reflexão sobre o seu verdadeiro valor, sobre o que está a acontecer com os mais jovens, e não se dê de barato o amor como consumo,  como desculpa para actos fúteis,  como representação material de um mau estar espiritual, ou como culpa pela falha de uma enorme e potente máquina social.
Se existir ainda a capacidade e o espaço para dialogar, para inverter valores subvalorizados,  para fazer renascer a Vontade e o Querer,  poderemos ir ainda a tempo de travar algumas formas de violência quer com os pares, quer com os pais. Compete à sociedade em geral e a cada um em particular, operando nos seus lugares específicos, reverter a tendência de degradação e desrespeito evidenciadas nas várias publicações dos últimos dias.