segunda-feira, 30 de março de 2015

Tempo



Passam horas de um dia sem horas
Passam dias de uma semana sem dias
Passam semanas de um mês sem semanas
Passam meses de um ano sem meses.
Tempo efémero e fugaz,
Que te abraça, que te enlaça,
Te desafia, te confronta e te traz.
Tempo de um tempo que é teu, que é meu,
Guardado em secreto tesouro,
Esquecido em noite de breu.
Tempo que acena em breve passagem,
Fuga ao luar, e ao mar,
De uma vida feita miragem.
Tempo que urge a fugir,
Não espera, não volta, não pára!
Aguarda por ti, por mim, pela vida!
Para que ao tempo demos tempo,
De conjugar a folha caída!
Tempo…. Agarra-o! Agarro-o! 



terça-feira, 17 de março de 2015

Cinzento


Vives numa bolha de ar envolta em névoa,

Onde te escudas, te escondes,

Para tão somente te protegeres

De um Mundo que vive em mágoa.

De cinzento vestido, sem brilho, sem cor,

Onde se mata a frio, sem dor nem pudor,

Onde se violam vidas porque sim, com desamor,

Onde liberdade periga no clamor.

Dizem-te o que deves fazer,

De cima de um pedestal,

Deitam-te contas à vida,

Através de carta postal.

Deixaste sonhos para trás,

Perdidos, guardados… até quando?

Adiaste o teu futuro,

E do presente perdeste o comando.

Tens ânsia de cores na vida,

Rios a correr para o mar,

Canções que te dêm alma,

Palavras para te libertar.

Urge em ti pressa do ontem,

Queres ventos de mudança,

Tens que voar para longe,

Não é tua esta herança…

Sim, tu és capaz!!

Tens em ti a força do mundo,

Que te espera, que te aguarda.
Sai, rebenta a bolha!



Afasta a névoa num segundo!

E agarra o sonho, a vida, a liberdade!!

 

 

 

 

 

 

sábado, 14 de março de 2015

Vazio


Na noite te encontras, na noite te perdes,

Em inquietação.

Ouves o ruído silencioso de uma memória passada.

Com emoção.

Interrogas-te, e a ti respondes,

Em negação.

Sentido da vida ou a vida sem sentido,

Com desilusão.

Afagas o vazio de um passado recente,

Em solidão.

Vives lembranças de um ser que já não está,

Com afeição.

Aceitas a inaceitável dor da perda,

Em compreensão.

Fazes um luto que é só teu,

Com coração.

Amargo travo de sentir,

Incompreensão.

Saudade sem contorno que se perde

Na razão.

 

 

quinta-feira, 12 de março de 2015

Freneticamente




Mais uma manhã, mais uma madrugada,
A desafiar os caminhos da tua existência.
Vacilas, para logo te firmares,
Hesitas para logo decidires,
E avanças, abraçando o dia,
Em que te dás, cúmplice da vida.
Olhas o Mundo,  e com força desmedida
Rasgas as horas uma a uma, freneticamente.
Amas com profundidade e sem condição,
Entregas-te como vela ao vento,
Ao sabor de horas e dias,
Vividos com intensa paixão.
Completas-te a cada momento,
Num puzzle a que chamas de vida,
Em peças imperfeitas e desiguais,
Tão desiguais como as noites e os dias.
E caminhas,  persegues um sonho,
Que só tu entendes,
E em monólogo sussurrante,
 Deixas-te guiar por estradas e pontes.
Espaços vazios que vais preencher,
Com peças soltas,  perdidas, inertes.
E avanças, mais sempre mais,
Numa vida incompleta,
Num Mundo incompleto,
Onde ocupas o teu espaço
Em quadrados desiguais.
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Sentidos


“Era mais uma manhã daquelas em que os raios do sol rasgavam por entre os cortinados que ondulavam ao sabor da brisa que se fazia sentir, criando imagens curiosas que reflectiam na parede do quarto. Ficou a contemplá-las e a imaginar o que poderiam ser.  Pássaros, borboletas, árvores a ondular com o vento, bustos em corrida fugaz, enfim…. Figuras. Figuras que poderiam ser tudo aquilo que quisesse ver nelas.

Curioso como a imaginação nos transporta para mundos tão díspares, tão transcendentes.

Repentinamente, olhou o relógio, soltou um suspiro de aflição, e apercebendo-se que tinha demorado tempo demais na contemplação das “suas” imagens,  levantou-se da cama, bem acordada para a vida real, e começou naquela sua rotina diária, com tempos e compassos marcados, qual pauta de música onde tudo tem forçosamente que encaixar, por forma a harmonizar a composição diária da sua vida.

Duche, roupa, pequeno almoço, breve arrumação de casa, mala, computador, café da manhã na pastelaria da esquina, jornal no quiosque logo ao lado, bons dias às caras que há anos se cruzam no mesmo caminho à mesma hora, chave do carro, e finalmente a caminho de mais um dia de emoções, de realizações, de ajudar alguém a ser feliz. Liga o rádio para as notícias da manhã – invariavelmente nada de novo que mereça a sua atenção especial.

Para suavizar o tempo perdido naquela fila de trânsito interminável, coloca o seu CD preferido, aquele que lhe transmite a paz necessária para enfrentar o dia, que lhe faz pensar no significado das letras, uma a uma, e ao mesmo tempo que se revê numa grande parte delas, apercebe-se que para cada letra, existe uma pessoa ou situação específica, que bem identifica. Curioso, nunca se tinha debruçado muito sobre este tema. É mesmo verdade – canções não são mais do que o encarnar de situações verídicas, contadas em forma de música, que ou podem dar ainda mais brilho e emoção ao momento vivido, ou envolve-lo numa espécie de véu,  para o tornar menos doloroso.  E entre semáforos, paragens, avanços, automobilistas incautos e sem paciência logo cedo, perde-se na análise que faz da sociedade adaptada às faixas do “seu” CD.

 O “arruma” do costume no sítio do costume, indica-lhe o lugar. Conhecem-se já há alguns anos, tantos quantos começou a trabalhar naquele edifício de paredes brancas, janelas grandes, a abraçar a luz e a cor de uma cidade em permanente movimento. Depois do cumprimento matinal, percorre em passo rápido os cerca de duzentos metros que separam o estacionamento do portão de acesso àquele local onde tem sido tão feliz. Determinada, entra no elevador, na ânsia de transcrever todas as emoções  e pensamentos dessa manhã. Sabia bem como aplicá-los. O projecto começava a ganhar forma, as linhas mestras estavam traçadas, restava-lhe estabelecer alguns contactos  - tinha a certeza que sim! Este era mesmo o projecto da sua vida!

E trabalhou com afinco, com empenho desmedido, teve o reconhecimento dos seus parceiros, das entidades competentes, enfim, teve sucesso! Feliz, recordou, não sem alguma nostalgia, o dia em que teve que abandonar o seu País, a sua família e os seus amigos, para realizar o seu sonho e ter a sua oportunidade…..”

 

 

domingo, 8 de março de 2015

Mulher


És um ser inigualável

Qualquer que seja teu berço.

És sol em dia de inverno, calor que derrete neve,

Flor em pleno deserto, porto seguro em mar revolto.

Porque és:

Embalo, encanto, amor, doçura, beleza,

Educação, ensino,

Trabalho, luta, justiça,

Vida!

Amarram-te, silenciam-te,

Numa esfera de terror,

Subjugam-te,  subestimam-te…

Quem te faz mal, desconhece o amor!

De ti brota vida para o mundo,

De ti nasce o futuro.

Amas como só tu sabes,

Lutas com mãos de fada,

Vigias, zelas, crias,

Num casulo que se faz estrada.

És MULHER!!!

 

 

 

 

sábado, 7 de março de 2015

Força de Vida


Abraças a vida com força de Hércules,

Guardas em ti a vivência de todos os segundos, minutos e dias,

Que enfrentas , num eterno desafio.

Cruzas os dias e as noites,

Com prazer inigualável.

Ultrapassas os teus limites,

Num reino que é só teu,

Onde brilhas qual leão,

Numa selva de betão.

Tens genes de furacão,

Tempestade em mar calmo,

Vento a assobiar músicas,

Canta notas de andanças.                  

Agarras o mundo nas mãos,

Onde te perdes e te encontras,

Onde sofres e és feliz,

Onde lutas e descansas,

Onde vives até mais não!

Bebes os dias como se não houvesse amanhã,

E numa torrente de emoções,

Preenches-te, deliras e vives!