quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Ausência


Esvai-se-me o ardor da tua ausência,
Na calma corrente de um rio,
Que de vida deixaste vazio,
Rumos perdidos no frio,
Palavras em desvario,
Segredos de pura inocência.
Memórias soltas ao vento,
Esvoaçam sobre o meu ser,
Páginas de vida para ler,
Onde a força me fez querer,
Tudo abraçar e viver,
Sem mágoa e sem desalento.
Esvaiem-se os dias carentes de ti,
Urge-me o tempo fugaz e singelo,
Nas hora correntes em que me atropelo,
De dias somados em paralelo,
Num forte de vida, o meu castelo,
Que à luz dos meus sonhos já construí.



domingo, 13 de dezembro de 2015

A Hora

Horas que correm num leito sem fim
Trazem o momento guardado em mim
De memórias acesas à luz do luar
Em páginas gritantes de tanto calar.
Refúgios escondidos que trago no peito,
Que sinto e agarro num dia já feito,
De horas  correntes, instantes,  distantes,
Num abraço de gentes, dementes, amantes.
Horas das horas que  me conduzem,
Em ventos  cruzados sentidos me trazem,
Ausências perdidas em tons de viagem,
Presenças ocultas de um mundo selvagem.
Correm  ponteiros caminhos velozes,
Na guarda dos dias plenos de vozes,
Onde mares distantes me fazem sinal,
E me dizem que a hora é minha afinal...






terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O que é a vida?

Nada mais que uma viagem onde vamos guardando conhecimento, emoções, experiências, vivências, amizades, amores e desamores, locais inesquecíveis, músicas marcantes, rostos que fazem parte de nós. E cada paragem tem o seu correspondente  em bagagem.

Carrego comigo bagagens de vida,
Recolhidas em paragens difusas,
Na viagem do meu ser.
Atravesso caminhos cruzados,
De gritos silenciados,
Em rumos por vezes trocados.
Carrego comigo bagagens de vida,
No meu peito emolduradas,
Pertences da minha existência.
Espaços por onde vagueio,
Numa espécie de passeio,
Onde o sonho foi e veio.
Carrego comigo bagagens de vida,
Raios de sol feitos abraços,
Gélida chuva e esmorecer chamas.
Ouço notas coloridas,
Compostas no correr das vidas,
Doces momentos de horas idas.
Carrego comigo bagagens de vida,
Cheias de emoções e canções,
Fechadas de amores e desamores,
Telas esbatidas de cores,
Desenhos de muitas paixões.
Recolhidas em paragens difusas,
Na viagem do meu ser. 




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Contrastes



”E enquanto via a chama a crepitar na lareira, odulando, provocando reflexos de vários tons laranja, ora mais vivos, ora mais mortiços, num desafio imparável, recordava com alegria as tardes de inverno da sua juventude.
Lá longe, onde as notícias do mundo chegavam mais tarde, onde as tecnologias de informação como hoje se conhecem, eram uma miragem, onde o relacionamento interpessoal e a entreajuda eram o pilar mais fundamental da sociedade onde vivia.
Valores eram valores. Respeito, amizade, sinceridade, palavras-chave de um dia a dia onde os escassos 500 habitantes da aldeia, fundamentavam o seu ser e o seu viver, mau grado as imensas dificuldades quotidianas, as condições deficitárias de sobrevivência, decorrentes de uma débil actividade económica da região, o frágil acesso a um ensino capaz que proporcionasse mais oportunidades, e satisfizesse a sua enorme vontade de tudo apreender, e tudo querer saber.
Tempos idos esses, onde o mínimo pormenor fazia a diferença, onde para confraternizar tudo era motivo, onde qualquer objecto era imaginado e transformado num qualquer alvo de necessidade latente.
Repentinamente, deteve-se na contemplação daquela chama, no conforto do seu lar actual, na cidade a que chamou sua, rodeada de pessoas cultas mas frias, com vida confortável mas egoístas, bem sucedidas mas calculistas, e para quem os valores do seu passado nada representavam.
Levantou-se, pegou na paleta e no pincel, dirigiu-se para o cavalete sempre presente, e com uma velocidade frenética começou a pintar com traços rápidos e incisivos, como que a querer espelhar naquela tela todos os contrastes da sua vida.”…

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Luz



Aquele rasgo de luz trémula, intermitente,
Que ilumina o espaço dos dias vividos,
Onde histórias te dançam na mente,
Num misto desfilar de sentidos.
São tantos os céus que abraçaste,
Tão por inteiro te entregaste,
Que à tua luz e vida negaste,
E em silêncios sufocaste.
Alma inquieta te habita,
Num tudo querer do bem,
Não és tu, é a vida que dita,
As linhas a escrever e por quem.
E se o sentido da vida é só um,
Porquê o desencontro a fluír?
Porquê troncos a ruír?
Porquê o ego a construír?
E se o sentido da vida é só um,
O rio corre para o mar,
O destino do pássaro é voar,
E o das pessoas amar.
E se o sentido da vida é só um,
Por entre a luz trémula, intermitente,
Reserva o caminho no espaço quente,
Que no teu peito te diz seres gente.

sábado, 31 de outubro de 2015

Levaste de mim



Levaste de mim uma parte
Amputada de vida e de sorrisos,
Muda de silêncios sentidos,
Orfã de momentos vividos.
Foram tantos os dias e anos,
Cúmplices de vidas cruzadas,
Degrau a degrau das escadas,
Construímos as nossas estradas.
Levaste de mim uma parte,
Na frieza do teu ser,
Alheia ao teu querer,
Por além não quereres ver.
Vento que estremece os caules,
Tempestade de sentidos,
Torrente de pensamentos  esquecidos,
Ofuscam dias já vividos.
Levaste de mim uma parte,
Silenciada, morta, perdida,
De uma vida já nem sentida,
De uma luz em pavio ardida.
Caminhos cruzados te afastam,
Constrois um castelo que é só teu,
Muralhas de frio e de breu,
Te afastam do teu mundo e do meu.
Levaste de mim uma parte,
Dos meus dias,  dos meus risos,
Dos momentos imprecisos,
Das surpresas sem avisos.
Sim, levaste de mim uma parte.







quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Gente



"Aquele dia em que pensas que o cansaço te vence,
Que és uma ilha num mar revolto,
Onde forças cruzadas te esmagam,
Pintando sombras no teu chão.
Frágil, ergues-te por entre frestas de vida,
Respiras o coração da cidade,
E caminhas sobre o risco que traçaste.
Negro carvão na tela, povoa espaços vazios,
Curvos, rectos , se entrecruzam,
Como braços gigantes de um rio.
Envolves-te num manto de esperança,
Flor que brota do chão,
Selvagem,  pura,  seiva de vida,
Lava fresca de vulcão.
No olhar levas o mar, imenso.
Navegas através do vento, intenso.
E ao porto te acorrentas, numa avidez de ternura,
Num desejo já frustrado, num desmaiar de loucura.
E hoje é aquele dia em que pensas que o cansaço te vence,
Mas onde acordas feliz, onde a tua alma te sente,
E gritas alto para o mundo: cheguei aqui e sou gente!!! 





terça-feira, 29 de setembro de 2015

Foi mais um amanhecer



Iluminaste a manhã em que sentiste o vazio
Do espaço perdido em redor,
Cheio de vozes, presenças marcantes,
Corações palpitantes, sedentos de amor.
Raios de sol te afagam o rosto,
Te alegram a alma
Te confortam com gosto.
É mais um dia de histórias
Escritas ao vento
A habitar nas memórias.
Embalas nas horas ferventes,
A desfilar  nos ponteiros
De tempos absorventes.
E em ti encontras o sol do caminho
Que em ti se faz maior,
Cheio de gente, ou sozinho.
Amanhece, e esse é o teu dia!
Guardas flores,
Esqueces rancores,
Escreves com cores.
E a manhã é tua! Agarra-a!
Pede ao sol que te dê:
Ânimo, força, paz
E segue sem olhar atrás!!