Lugar comum desde a noite de 10
de Julho, a grandeza de Portugal e dos Portugueses.
Por isso, a minha reflexão vai
não no sentido da pura celebração de um feito de que todos nos orgulhamos, mas num sentimento mais abrangente da Alma lusa que nos habita.
Foi com emoção, comoção, um
arrepio gélido e uma teimosa lágrima ao canto do olho, que assisti, ainda que à
distância, à celebração de uma Nação e de um Povo, materializados na vitória de
Portugal no Euro 2016.
Sofremos, gritámos, protestámos,
mas não deixámos de Acreditar!
No final de um dia marcante para o País, onde o atletismo também
foi rei, terminámos e serão com a alma
cheia de Portugal!
É impressionante o poder de união
e de vontade gerado em torno de um feito que num segundo quebrou preconceitos,
resistências, e mostrou ao mundo que se calhar era tempo de mudar o rumo – um simples
golo, marcado pelo mais improvável dos 23 convocados. A prova, de que afinal é
possível.
Os Portugueses uniram-se,
abraçaram-se, cantaram a uma só voz, emocionaram-se em conjunto, e em conjunto
pintaram o País a duas cores, felizes, humildes, mas com o sentimento da sua
enorme grandeza!
Afinal, quando tudo conspirava em
sentido contrário, aqueles rapazes reinventaram-se, e com a garra comum a este
nobre povo, tiveram a capacidade de com humildade, inteligência e espírito uno,
devolver aos Portugueses alguma da alegria há tempos “roubada”.
Somos Grandes!! Sim, somos Enormes,
tão enormes quão enorme é a Alma que nos habita! E não vale a pena quererem
fazer de nós os “inhos” de uma Europa caduca de conceitos e valores. Nós não somos os coitadinhos que
habitam aquele país na pontinha da Europa, muito bonitinho e hospitaleiro, mas onde tudo
é “pequenino”... Nós não somos a imagem que quiseram fazer passar de nós,
probrezinhos, sem capacidade para enfrentar as dificuldades e agruras de tempos
tempestuosos. Nós não somos um bando de vadiozinhos, gastadores e irresponsáveis,
sentados à sombra da bananeira à espera que aconteça. Nós não somos os vaidosinhos tugas, a darem-se
ar de gente importante! NÃO!!
Os Portugueses têm uma enorme capacidade de se reinventar,
de acreditar, de fazer, de empreender, de amar, e de em conjunto se unirem num
abraço de humildade, que faz vergar os mais arrogantes e intolerantes.
Sem dúvida que entrámos numa nova
era, não só pela força do futebol que tem o poder de agregar crenças e
vontades, mas também pelas demais modalidades desportivas que nos aportam tanto
orgulho; pela cultura cada vez mais reconhecida além fronteiras, pela voz, pela
caneta, pela tela, ou pela mão de tantos talentos que nos levam aos sete cantos
do mundo; pelos jovens empresários que amadurecidos numa época de dificuldades,
abriram o espírito às alternativas de investimento; pelo crescente número de
cientistas e investigadores que diariamente contribuem para descobertas
determinantes nas mais diversas áreas; pelo trabalho de milhares de jovens
qualificados que, espalhados pelo mundo, desenvolvem o seu trabalho com dedicação e afinco reconhecidos; enfim, pelas oportunidades que tivemos a
capacidade de triar, de agarrar, de empreender, e de virando o tampo da mesa, e
o já gasto tabuleiro do jogo, conseguimos recolocar.
E já que os Portugueses são Enormes, tempo seria também de entrarmos numa nova era
em termos de postura política, deontológica, ética e moral, por parte daqueles
que governam os nossos destinos, ou que com eles interferem directa ou indirectamente. Existe uma Alma que sofre, pela incúria, pela
arrogância, pela ganância, pela frieza desmedida dos números, e que não merece mais
provações socio-económicas, familiares e afectivas. Esta Alma é a essência de Portugal, é a
identidade que queremos ter intra e além-fronteiras. Esta Alma canta, ri,
vibra, chora, sofre, trabalha, abraça, beija e ama. Esta Alma quer-se una,
envolta num manto de afecto, e onde percorrida por um longo abraço, permita que
lhe seja devolvido o beijo, espelhado no chão que tanto ama.