sábado, 30 de julho de 2016

Turbilhão



Meus tempos,
Meus silêncios,
Minhas cores,
Minhas dores,
Meus encantos,
Meus desalentos,
Minhas crenças,
Minhas mudanças,
Meus amores,
Meus temores,
Minhas aventuras,
Minhas tonturas,
Meus sons,
Meus tons,
Minhas canseiras,
Minhas asneiras,
Meus caminhos,
Meus desalinhos,
Minhas teimosias,
Minhas fobias,
Meus rabiscos,
Meus ariscos,
Minhas vertigens,
Minhas origens,
Meus desejos,
Meus gracejos,
Minhas bagagens,
Minhas bobagens,
Meus sonhos,
Meus tristonhos,
Minhas manias,
Minhas euforias,
Meus sentidos,
Meus sustidos,
Minhas incertezas,
Minhas clarezas,
Meus humores,
Meus horrores,
Minhas vontades,
Minhas metades,
Meus mares,
Meus ares,
Minhas pedras,
Minhas portas,
Meus escritos,
Meus gritos,
Minhas paixões,
Minhas reflexões.
Meu turbilhão de emoções,
Minha essência, minha alma.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

GPS



Chega, liga, segue a rota.
Anda, corre, salta e pula.
Aqui avança, ali pára.
Vota atrás e recalcula.
Retoma o caminho perdido,
Aumenta a velocidade,
E o GPS avisa:
Parar de novo – necessidade!
Trava, encosta outra vez,
Que chatice de viagem,
O caminho não tem fim,
Chega a ser uma miragem.
E sempre a recalcular,
Vai de etapa em etapa,
Ora bolas , que desgosto,
Não ter nascido com mapa!
GPS fala e cala,
Já chega de: “atenção”!!
Desliga e volta a ligar…
Na mesma -  em contramão!!
Irra, que coisa macaca,
Esta do caminho a traçar,
Cala a boca maquineta!
Que o destino há-de chegar!
Nas voltas do recalcula,
Algo sempre a descobrir,
Parar não é solução,
O melhor mesmo, é prosseguir!
E de GPS na mão,
Arrisca o que melhor parecia,
Sim, porque a caixinha pifou,
Faltou-lhe a bateria.
Viajar assim é penoso,
Experiência que não se esquece…
Haja luz e convicção,
Nem faz falta o GPS!!!

domingo, 17 de julho de 2016

A Vida em Magia



Só podia ser magia. Sim, magia. Porquê?
O crepúsculo, a brisa, a paz, a música num tom rouco, calmo e cúmplice,  aquela bebida tão especial, mimo de certos momentos,  tudo  fazia parte do cenário.   A paisagem, essa, de uma beleza incrível. Luzes  que povoavam o espaço  frente ao terraço deixavam observar o declive que se estendia a seus pés,  para mais logo confinar num horizonte infinito, onde a imaginação se perdia.
A conversa fluía, agradável, ora em temas mais sérios, ora recortada por momentos hilariantes de boa gargalhada.  Eram assim os encontros deste grupo de amigos, distantes no espaço, mas em tudo cúmplices, como se diariamente se cruzassem.  As histórias, as aventuras, as desventuras, tudo lhes era comum e familiar.  Amigos, sim. Mesmo. Daqueles que cantam, riem e sofrem connosco. Daqueles que basta uma entoação diferente na voz ou uma pausa mais prolongada, para percebermos que alguma coisa se passa. Daqueles que não se coíbem de telefonar fora de horas para connosco partilharem uma alegria ou uma tristeza.  Daqueles que, fisicamente distantes, no momento certo, estão presentes. Bom. Muito bom mesmo, que ao fim de tantos anos, com vidas e percursos diferentes,  nada tivesse mudado nem beliscado aquela cumplicidade. Mantinha-se intacto este núcleo duro.
À medida que a noite ficava cada vez mais cerrada, mais deslumbrante a paisagem. Os reflexos das luzes, onde um luar intenso parecia querer construír diferentes imagens,  o piscar dos aviões a cruzar o céu,  o cintilar das estrelas. No terraço, a luz difusa das velas e das tochas, tornavam aquele serão mágico.  Um cheiro meio campestre,  onde o pinho se misturava com a fragância libertada por plantas diversas, entranhava-se  na pele e nos sentidos.
Curioso, como são estes momentos que ajudam a dar sentido à vida; quando começamos a vergar pela pressão dos dias,  quando  parece que a solução para certos problemas está cada vez mais longe, quando a desilusão se apodera de nós, quando deixamos de acreditar nas pessoas, é esta espécie de vitamina que ajuda a alimentar os dias mais difíceis. Vitamina mágica.  Sim, mágica, porque não é componente de medicamento algum, nem tão pouco de suplemento alimentar. Mágica, porque é absorvida por aquilo que de mais abstracto existe em nós: o sentimento e a alma. Intangível e invisível. Apenas  intrínseco a cada pessoa.
 Como é difícil, por vezes, fazer perceber aos outros que a essência da vida afinal é tão simples …  simples, como a amizade, o amor, a luz, o cheiro, o estar e uma dose de magia q.b.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Portugal, os “inhos” e a Alma



Lugar comum desde a noite de 10 de Julho, a grandeza de Portugal e dos Portugueses.
Por isso, a minha reflexão vai não no sentido da pura celebração de um feito de que todos nos orgulhamos, mas  num sentimento mais abrangente  da Alma lusa que nos habita.
Foi com emoção, comoção, um arrepio gélido e uma teimosa lágrima ao canto do olho, que assisti, ainda que à distância, à celebração de uma Nação e de um Povo, materializados na vitória de Portugal no Euro 2016.
Sofremos, gritámos, protestámos, mas não deixámos de Acreditar!
No final de um dia  marcante para o País, onde o atletismo também foi rei,  terminámos e serão com a alma cheia de Portugal!
É impressionante o poder de união e de vontade gerado em torno de um feito que num segundo quebrou preconceitos, resistências, e mostrou ao mundo que se calhar era tempo de mudar o rumo – um simples golo, marcado pelo mais improvável dos 23 convocados. A prova, de que afinal é possível.
Os Portugueses uniram-se, abraçaram-se, cantaram a uma só voz, emocionaram-se em conjunto, e em conjunto pintaram o País a duas cores, felizes, humildes, mas com o sentimento da sua enorme grandeza!
Afinal, quando tudo conspirava em sentido contrário, aqueles rapazes reinventaram-se, e com a garra comum a este nobre povo, tiveram a capacidade de com humildade, inteligência e espírito uno, devolver aos Portugueses alguma da alegria há tempos “roubada”.
Somos Grandes!! Sim, somos Enormes, tão enormes quão enorme é a Alma que nos habita! E não vale a pena quererem fazer de nós os “inhos” de uma Europa caduca de conceitos  e valores. Nós não somos os coitadinhos que habitam aquele país na pontinha da Europa,  muito bonitinho e hospitaleiro, mas onde tudo é “pequenino”... Nós não somos a imagem que quiseram fazer passar de nós, probrezinhos, sem capacidade para enfrentar as dificuldades e agruras de tempos tempestuosos. Nós não somos um bando de vadiozinhos, gastadores e irresponsáveis, sentados à sombra da bananeira à espera que aconteça.  Nós não somos os vaidosinhos tugas, a darem-se ar de gente importante! NÃO!!
Os Portugueses  têm uma enorme capacidade de se reinventar, de acreditar, de fazer, de empreender, de amar, e de em conjunto se unirem num abraço de humildade, que faz vergar os mais arrogantes e intolerantes.  
Sem dúvida que entrámos numa nova era, não só pela força do futebol que tem o poder de agregar crenças e vontades, mas também pelas demais modalidades desportivas que nos aportam tanto orgulho; pela cultura cada vez mais reconhecida além fronteiras, pela voz, pela caneta, pela tela, ou pela mão de tantos talentos que nos levam aos sete cantos do mundo; pelos jovens empresários que amadurecidos numa época de dificuldades, abriram o espírito às alternativas de investimento; pelo crescente número de cientistas e investigadores que diariamente contribuem para descobertas determinantes nas mais diversas áreas; pelo trabalho de milhares de jovens qualificados que, espalhados pelo mundo, desenvolvem o seu trabalho com  dedicação e afinco  reconhecidos;  enfim, pelas oportunidades que tivemos a capacidade de triar, de agarrar, de empreender, e de virando o tampo da mesa, e o já gasto tabuleiro do jogo,  conseguimos recolocar.
E já que os Portugueses são Enormes,  tempo seria também de entrarmos numa nova era em termos de postura política, deontológica, ética e moral, por parte daqueles que governam os nossos destinos, ou que com eles interferem directa ou indirectamente.  Existe uma Alma que sofre, pela incúria, pela arrogância, pela ganância, pela frieza desmedida dos números, e que não merece mais provações socio-económicas, familiares e afectivas.  Esta Alma é a essência de Portugal, é a identidade que queremos ter intra e além-fronteiras. Esta Alma canta, ri, vibra, chora, sofre, trabalha, abraça, beija e ama. Esta Alma quer-se una, envolta num manto de afecto, e onde percorrida por um longo abraço, permita que lhe seja devolvido o beijo, espelhado no chão que tanto ama.