quinta-feira, 16 de junho de 2016

Je suis ..... quoi?



Je suis Paris, je suis Bruxelas, je suis Turquia, je suis Orlando, je suis…. Quoi de plus?... Je suis….le Monde entier!
Sim, ontem fomos Paris, Bruxelas, Turquia, Orlando… e tantos outros locais onde a aberração do terrorismo teima em pôr termo a vidas indefesas, que apenas querem estar de bem com os seus dias, e celebrar  instantes.
De nada serve sermos os locais onde a barbárie aconteceu, apesar da extrema importância de sermos solidários e mostrarmos essa solidariedade a quem sofre.
A questão prende-se muito mais, a meu ver, com o caos que aqui e ali começa a ganhar forma no mundo. Culpados? Todos. Toda uma sociedade, seja ela de brancos, negros, amarelos ou mestiços. Todos contribuíram de uma forma ou outra para a inversão de valores, para a sobreposição dos índices economicistas, àquilo que fundamenta as sociedades – os cidadãos enquanto tal. E não me refiro a sociedades desenvolvidas ou ultra-desenvolvidas. Refiro-me sim, ao mundo em geral. Enquanto uns ostentam o poder angariado, e do alto dos seus pedestais nem sequer se dão ao trabalho de inclinar a cabeça e ver o que se passa em redor, outros, raiam o limiar da miséria, das condições de vida mais degradantes que um ser humano pode viver ainda no nosso século, e quantas vezes resignados, mas solidários, e em cujo olhar ainda brilha uma réstea de esperança. E é precisamente no meio termo que surgem os maiores problemas, muitas vezes provocados por um sentimento de revolta e de injustiça. Chegar perto dos que estão no topo, é difícil pelas vias normais. Resignar-se e aproximar-se do patamar abaixo, não é o objectivo.  E é neste meio termo, onde cidadãos com alguma formação e informação se movimentam, que surgem os problemas, ora por uma ambição desmedida que não olha a meios para atingir os fins, ora por uma desilusão profunda face às assimetrias locais, continentais e mundiais.
E o grande problema é que as sociedades não estão preparadas para lidar com as situações decorrentes  dessa “décalage”,  onde cidadãos aparentemente “normais”, que habitam ou trabalham ao nosso lado, ou podem até tomar um café na nossa roda de amigos, aparentemente enquadrados na sociedade,  vivem vidas duplas, e em nome de um ideal absolutamente aberrante,  não se coíbem de matar, de provocar sofrimento a dezenas ou centenas de pessoas indefesas e que apenas querem fazer a sua vida.
Cada vez mais estes ataques de pura barbárie são direccionados para quem usufrui da sua liberdade, seja ela de ser ou estar, seja de expressão. Esplanadas, cafés, resorts, aeroportos, casas de espectáculo, bares, discotecas, jornais. Locais onde  nos sentimos bem, onde a intenção é desfrutar de momentos que nos dão prazer, e que apenas quem é livre pode usufuir. O terror é inimigo do prazer, da liberdade, da cultura, por isso pretende espalhar o medo. 
É tempo dos senhores que governam o mundo fazerem uma séria reflexão, e tomarem medidas sérias e eficazes,  pois chegámos a uma situação não prevista por quem, a troco de biliões ou triliões financiou autênticos arsenais de armas de guerra, facilitou negócios petrolíferos, e de alguma forma provocou a “pescadinha de rabo na boca” que nos chegou ao prato sem que a tenhamos pedido.
Enquanto cidadãos, expectantes e em simultâneo potenciais actores de um qualquer episódio que possa acontecer se estivermos no local errado à hora errada, apenas nos resta sermos cada vez melhores pessoas, melhores educadores,   gerirmos melhor as nossas prioridades e aquilo que queremos para e da vida, e tentarmos a todo o custo reinstalar o básico de qualquer ser humano – os valores (que não materiais).
Sim, porque o prato que pedimos, pode ter sido dinde aux marrons, moules frites, kebab, hambúrguer, cozido à portuguesa,  sushi, soja ou tofu,  mas não foi certamente esta “pescadinha" que diariamente nos é servida.
E por isso,  je  suis  auncun endroit, je suis le Monde entier!

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