domingo, 17 de julho de 2016

A Vida em Magia



Só podia ser magia. Sim, magia. Porquê?
O crepúsculo, a brisa, a paz, a música num tom rouco, calmo e cúmplice,  aquela bebida tão especial, mimo de certos momentos,  tudo  fazia parte do cenário.   A paisagem, essa, de uma beleza incrível. Luzes  que povoavam o espaço  frente ao terraço deixavam observar o declive que se estendia a seus pés,  para mais logo confinar num horizonte infinito, onde a imaginação se perdia.
A conversa fluía, agradável, ora em temas mais sérios, ora recortada por momentos hilariantes de boa gargalhada.  Eram assim os encontros deste grupo de amigos, distantes no espaço, mas em tudo cúmplices, como se diariamente se cruzassem.  As histórias, as aventuras, as desventuras, tudo lhes era comum e familiar.  Amigos, sim. Mesmo. Daqueles que cantam, riem e sofrem connosco. Daqueles que basta uma entoação diferente na voz ou uma pausa mais prolongada, para percebermos que alguma coisa se passa. Daqueles que não se coíbem de telefonar fora de horas para connosco partilharem uma alegria ou uma tristeza.  Daqueles que, fisicamente distantes, no momento certo, estão presentes. Bom. Muito bom mesmo, que ao fim de tantos anos, com vidas e percursos diferentes,  nada tivesse mudado nem beliscado aquela cumplicidade. Mantinha-se intacto este núcleo duro.
À medida que a noite ficava cada vez mais cerrada, mais deslumbrante a paisagem. Os reflexos das luzes, onde um luar intenso parecia querer construír diferentes imagens,  o piscar dos aviões a cruzar o céu,  o cintilar das estrelas. No terraço, a luz difusa das velas e das tochas, tornavam aquele serão mágico.  Um cheiro meio campestre,  onde o pinho se misturava com a fragância libertada por plantas diversas, entranhava-se  na pele e nos sentidos.
Curioso, como são estes momentos que ajudam a dar sentido à vida; quando começamos a vergar pela pressão dos dias,  quando  parece que a solução para certos problemas está cada vez mais longe, quando a desilusão se apodera de nós, quando deixamos de acreditar nas pessoas, é esta espécie de vitamina que ajuda a alimentar os dias mais difíceis. Vitamina mágica.  Sim, mágica, porque não é componente de medicamento algum, nem tão pouco de suplemento alimentar. Mágica, porque é absorvida por aquilo que de mais abstracto existe em nós: o sentimento e a alma. Intangível e invisível. Apenas  intrínseco a cada pessoa.
 Como é difícil, por vezes, fazer perceber aos outros que a essência da vida afinal é tão simples …  simples, como a amizade, o amor, a luz, o cheiro, o estar e uma dose de magia q.b.

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